
Nove meses se passaram desde que a nova administração assumiu o leme de Pirassununga.
Eu esperava um 2025 perfeito? Não. Quem conhece minimamente a engrenagem da máquina pública sabe que início de mandato é reconstrução — e reconstrução leva tempo, suor e paciência.
Por isso, é errado dizer que tudo continua igual. Não. O que vemos é um gestor que demonstra preparo, conhecimento e, sobretudo, vontade de fazer. Mas não se engane: críticas existem, e não são poucas. Algumas escolhas no secretariado, a comunicação falha em pontos importantes e o envolvimento do prefeito em disputas que deveriam ficar no campo partidário ainda deixam um gosto amargo.
E, claro, as velhas feridas continuam abertas.
O caso do vale-alimentação, por exemplo. Mesmo sem dolo, todos sabem que o município perdeu. O problema não é falar sobre o golpe — ou não golpe, como alguns preferem —, mas sim sobre o que não está sendo feito para recuperar o dinheiro. E eu, otimista incurável que sou, torço para que retorne aos cofres da prefeitura. Torço porque acredito na cidade, ao contrário dos que vibram na turma do “quanto pior, melhor”.
Enquanto isso, os ataques seguem orquestrados. Negar isso é o mesmo que negar que o céu de Pirassununga é azul ou que a grama do Lago Municipal é verde. Aliás, o Lago… símbolo máximo do abandono, vítima da micro-explosão e da eterna “reforma”. A população pedia: “E o Lago? Cadê o Lago?”. Pois bem, o Lago reabriu. Parcialmente, mas reabriu. E qual foi a manchete no dia seguinte? Fiasco na abertura, infraestrutura precária, carrapatos de capivara.
No transporte sanitário, a matemática não bate. Em 2024, eram 32 viaturas em operação. Nove meses depois, o número caiu para menos de 10. Coincidência? Falta de manutenção? Realocação de pessoal? Corte de horas extras? Tudo isso precisa ser dito às claras, porque transparência não deveria ser artigo de luxo.
E a política, ah, a política…
Executivo e Legislativo seguem como casal em crise: não se entendem, não se escutam. O prefeito poderia articular melhor, mas o Legislativo também se dedica a criar factóides para desgastar a gestão. E, como se não bastasse, há situações em que laços próximos entre os atores políticos acabam colocando ainda mais lenha na fogueira, transformando divergências em verdadeiros duelos pessoais, quase no estilo novela das nove.
A imprensa e o jogo de narrativas
E aí entramos na imprensa — esse espetáculo à parte.
Deveria ser o espaço do contraditório, da pluralidade de vozes, do debate aberto. Mas virou, na prática, um concurso de criatividade: quem consegue transformar o nada em manchete mais barulhenta?
O modus operandi é conhecido: escolhe-se o alvo, recorta-se a frase, dá-se uma entonação dramática e pronto. Se o prefeito diz que gosta do céu azul, no dia seguinte sai a nota: “Prefeito despreza as outras cores e ofende arco-íris”. É o jornalismo transformado em novela — só que sem mocinho, só vilões.
E não é que a coisa fica ainda mais engraçada (ou trágica, depende do humor do leitor) quando vemos quem são os donos da pena? Ex-políticos derrotados, parentes ressentidos, sindicalistas com saudade do holofote. Parece mais reunião de condomínio do que redação. E, para completar, ainda correm boatos de que até políticos de fora pagam pautas. Jornalismo regional ou reality show de intrigas? Às vezes fica difícil distinguir.
Funciona como uma receita de bolo:
- Cria-se a narrativa.
- Repercute-se nos rádios, sites e grupos de WhatsApp — a versão pirassununguense da “rádio corredor”.
- Sindicatos e associações entram em cena com notas de repúdio dignas de peça teatral, acusando o prefeito de algo que nem o vídeo mostra.
- A polêmica ganha vida própria, e a cidade vira plateia.
O problema é que, enquanto manchetes se transformam em munição, a população fica sem saber o que realmente aconteceu. Informação virou espetáculo, indignação virou produto e, claro, a verdade virou figurante — quando aparece.
No fim, Pirassununga parece viver em um eterno programa de variedades, com políticos, vereadores e jornalistas disputando não quem governa, mas quem rende mais likes, compartilhamentos e fofocas de bar. E nessa confusão toda, quem perde é sempre o mesmo: o munícipe, que não pediu ingresso, mas já está sentado na plateia.

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